segunda-feira, 29 de agosto de 2011

#012


Parece piada, mas não é:
Hoje um louco me entra na lateral do carro, a pé, sozinho, debatendo sua sacola contra o vidro.
Susto pra uma vida inteira. Quero mais falar nisso não. Cantar pra espantar os males, que ganho mais!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

and i'll change it all again


Eu nunca quis ser nada. Sério, ainda não quero. E tenho uma certeza de que nunca vou querer. Todo mundo que eu conhecia queria ser alguma coisa. Isso me frustrava, porque além de TODAS AS OUTRAS COISAS que a sociedade teimava em afirmar que eu não me encaixava, ainda tinha mais essa. Que vidinha de merda, ein, moço.

Algum psicólogo algum dia talvez possa explicar, mas eu nunca gostei de ser o melhor em nada. Desde super pequeno eu gostava de nadar. AMAVA, na real. Ainda gosto, mas deixa isso pra outro post... Então, eu era um super peixinho lindo, que freqüentava o clube com a Madrinha. Comecei a ter aulas dessa delícia e amava ir lá brincar com aquelas pranchinhas amarelas ridículas. Depois de pouco tempo, me botaram na piscina funda e falaram que eu tava bom é pra competir. CALMA, O QUE? Tão lindo que todo mundo amou, tão triste que na hora eu quis parar de nadar. ME DEIXA, não quero medalhas, só quero ficar aqui com minha pranchinha amarela onde me dá pé, valeu aí, vou dispensar a borboleta.

Talvez tenha a ver com a escola também. Quando estudava em escola pública eu era o melhor do mundo da minha sala. Sem brincadeira nenhuma, os professores me amavam, minha mãe ia toda orgulhosa em reunião de pais e a vida era boa. Quando eu entrei em escola particular eu vi que bem, eu não era tão bom assim não. Aliás, eu tava bem atrasado em relação à galera. Baque profundo. Daí eu acho – to supondo, ta, não sou psicólogo, sou jornalista – que isso me afetou tanto que eu simplesmente não conseguia mais mostrar absolutamente nada que eu produzia.

De um desenhinho babaca até uma prova de matemática. Nem minhas notas eu gostava que vissem. Fosse um 10 ou um 5,5 que com a participação arredondava pra 6 e eu tava salvo. Não me orgulho do fato, mas o medo de alguém ser melhor em algo que você é assustador demais pra mim. Eu não soube MESMO lidar com isso. Ignorância é o melhor caminho, a gente não sabe, a gente não sente... a gente vive mega di bouas.

Uma vez teve um concurso de frases bonitinhas sobre meio ambiente (SEI LÁ) e daí valia nota e eu acabei entregando. Publicaram na agenda de todos os alunos no ano seguinte, com.meu.nome.embaixo. A vontade era enfiar a cara pelo cu e morrer de vergonha, sufocado, mas depois de uns meses ninguém mais notava. Quibom.

Tudo isso pra chegar a um ponto: Se eu não curto muito nem ser visto com coroas e confetes, imagina como eu me sinto quando alguma coisa não dá certo. Quando eu falho feio. Quando dá bosta. Quando a vida te fode gostoso.

E claro, pra desviar de tudo isso, meu humor muito adulto e sofisticado sempre ajudou a desviar a atenção e enquanto todos riem, escondo a sujeira debaixo do meu tapete, que ta ficando meio alto já, de tanta tranqueira acumulada.

Eu já fui muito menos aberto (no pun intended). As amigues do tempo de ensino médio sempre reclamavam... que eu sabia até o desenho da depilação intima delas e de mim ninguém sabia nada. E não tinha nada mesmo pra saber, eu sempre fui desinteressante.

Fui começar a ser verdadeiro com os outros – e comigo – quando conheci gente de longe, ou pelo menos, que pareciam estar tão longe. E hoje em dia são as mais próximas. No sentido necessário da palavra. Engraçado.

Muita informação, né. Nessa brincadeira de esconder quem a gente é, a gente se confunde e esquece do que a gente de fato gosta e quer pra gente. Voltando mais um pouco no tempo, primeiro orgulhinho foi eu ser quase uma Matilda. Li super cedo, parava na rua pra ficar lendo placa. Tonto. Mamãe amava. Tantos livrinhos infantis... coisa bonita de se ver. Hoje não leio nem o cupom fiscal de alguma compra pra ter certeza que não estão me cobrando a mais. Ok, mentira. Mas é que DE FATO, não leio lá muita coisa produtiva. Só tenho lido bobagens, mas é mais pela necessidade de usar isso como uma forma de me desligar dos compromissos. Ah, os compromissos. Logo mais volto neles.

Daí que nessas indas e vindas de personalidade e vida, subentendi que é, o que eu poderia arriscar fazer era investir em alguma coisa ligada à isso. Humanas. É, acho que é pra mim. No ensino médio tinha a Nathi ao meu lado, toda Humanas também. Ela tinha certeza de que queria ser jornalista. Eu não tinha tanta assim, mas me envolvi. Ainda tava na dúvida, porque: eu não sei escrever. E isso é claro, olha quanta volta eu to dando aí em cima pra chegar a: lugar algum, to só com vontade de escrever. Daí eu tinha um plano de vida: Faço letras, aprendo a escrever, viro jornalista, fico famoso, fico lindo, fico rico, morro.

Só que claro, eu não sei sonhar baixo e na hora de preencher a inscrição eu pensei bem e, porrãn, quatro anos só aprendendo a escrever é UM POUCO DEMAIS, EIN. – Dizia o Humanaszinho. HAHA. Vou logo encarar o jornalismo, WHO CARES com nota de corte? Vamo enfrentar essa parada aí. Rir pra não chorar.

É óbvio que eu não passei em jornalismo? E pensar que minha nota da época daria pra passar tranquilão em letras, ou administração – curso que me formei de fato em uma faculdadezinha de merda – ainda tira o meu sono às vezes. Saí do jornalismo porque com aquele valor de mensalidade na Privada (risos) que eu tava fazendo não me restava verba pra MAIS.NADA. E olha que nem trabalhar eu trabalhava. Eu to falando de VERBA ALHEIA. Fui atrás de algo mais rentável (engano!) que era a administração.

O resto da história todo mundo conhece.

Quer dizer, não deu nada certo. Mas eu me acho jovem o suficiente pra tentar de novo. Posso? É, toda essa volta pra falar que eu to numa vontade louca de fazer Letras. É o que eu quero pra vida? Não sei. Depois vou querer fazer jornalismo? Não sei. Vou trabalhar com isso? Potencialmente não. Mas eu só SINTO que preciso fazer isso. É como uma fase de vídeo game que você conseguiu passar, mas sem pegar todos os bônus, sabe? Aí lá na última tela você descobre que faltava aquela chave dentro do baú que você usou só pra subir no muro.

Acho linda a minha vontade. Mas né, nesse mundo querer não é poder, pelo menos não de imediato. Daí que todo ano eu me convenço de todo esse blábláblá que agora eu to expondo. E o que acontece? Nada, porque eu sou um acomodado. MAS EU PRECISO MUDAR.

Esse ano vou prestar aquele velho vestibular, que há seis anos atrás eu jurei nunca mais prestar. Vou passar? Provavelmente não. Porque eu não estudei nem pra apresentação do meu trabalho de conclusão de curso e você acha que eu to estudando conhecimentos do ensino médio? Pã!
Mas se eu não fizer isso, não vou começar nunca a estudar. É bom fazer uma dessas provas pra gente relembrar também, né. Faz tanto tempo que não passo mais de quatro horas com o cu na cadeira de madeira. Vai ser bom. Eu acho. E é um avanço enorme eu partilhar isso aqui, sabendo que mesmo que meu nomezinho lindo não aparecer lá na lista, tudo bem também, eu já fiz muito mais coisa pra me envergonhar nessa vida.

Que com isso eu me liberte pra mais coisas. E que eu pare de publicar posts que só o Word lê. Quero que o mundo (oi, Érika, só você me lê.) me leia. ABS. Sendo eu certo, ou errado. Mas sendo alguma coisa, seja lá o que for.

Já tão zuado isso aqui que vou terminar com uma música:




quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Srs polícia


É oficial, estou dirigindo. Ainda não digo que bem. Desviar de buracos ainda é um sério problema pra mim, o carro dá umas engasgadas sem motivo aparente, os ônibus teimam em me dar farol alto quando eu to na direita, ninguém entende que o motivo de parar longe do carro da frente é porque eu espero que façam o mesmo comigo.

Eu achei que esse processo seria bem mais doloroso do que de fato foi. Cheguei a cogitar ter aulas de volante com um psicólogo, SEI LÁ, eu tava desesperado e tenho prazo pra começar a dirigir sozinho. Meu emprego tá dependendo disso aê, não dá pra bobebar. Tem mais gente contando comigo nisso. Eu dirigindo foi pura NECESSIDADE, eu nunca tive vaidade, orgulho ou VONTADE de dirigir. Sério, nunca quis. Tirei carta porque tava na idade, tipos fazer catequese.

Daí que comprei o caralho do carro e não teve saída, vamo aprender a dirigir. Meu pai me acompanha toooodo dia pro trabalho de manhã e volta com o carro pra casa, porque eu ainda me cago de ir sozinho. Tinha problema com caminhões e no meu caminho tem terminais de carga, tinha problema com rampas e no meu caminho tem umas subidas que mais parecem looping. Treinei, treinei e treinei. Pronto, passou, tá tudo bem agora. Falta a prática, mas eu sei que posso parar numa subida e não vou passar – tanto – vexame.  Quanto aos caminhões eu ainda solto uns gritos quando algum passa perto, mas TO SUPERANDO.

Daí que hoje, to eu lindo e maravilhoso próximo já do trabalho e eis que surge um SR POLÍCIA no meu próprio caminho acenando para que eu: parasse? Fiquei na dúvida e meu pai me lembrou que eu deveria PARAR hahaha Gente, que sensação terrível. Era como se eu tivesse roubado um carro, fosse um fugitivo internacional e no porta-malas eu estivesse carregando 300Kg de cocaína. A gente ta com tudo certo, documentação em dia, mas o psicológico NÃO ENTENDE.

Bom dia, seus documentos e a documentação do veículo. E CADÊ a coordenação motora pra tirar os documentos da carteira? Sério, eu tremia tanto, mas tanto. mas.TANTO. Fico pensando se esse pavor rola com todo mundo. Porra, eu não tinha NADA de errado, mas o medo tomava conta. E ter medo de quem – teoricamente, veja bem, utopia etc – ta ali pra cuidar da gente é uma parada totalmente irracional. Pediram meu endereço e telefone, acho que tinham meta pra cumprir, sei lá. Depois que ele devolveu os documentos e desejou um bom dia, saí todo atrapalhado dando ré – estamos trabalhando nisso – e vi que outro cara do meu trabalho também estava sendo parado.

Ufa, né, pelo menos não sou só eu que tenho cara de que precisa ser parado em batida policial. Saí de lá pensando se isso não é uma forma de identificar a pessoa. Se nego se treme todo, certeza que tá tudo certinho. Se agir normalz é porque OPA, tem alguma coisa errada nissaê. Lógico que inquietação e olhos dilatados devem ser levados em conta, mas deveriam adotar o nervosismo de quem ta passando por isso como fator decisório pra liberar mais rápido a passagem. Not fair. Cagaço ficar lá com os Srs polícia.

Chegando no trabalho ainda tive que ouvir piadinha, porque eu contei que os polícia pediram o telefone e o outro cara disse que pra ele não pediram nada não. No cu dos outros é refresco, blz. Minha prima me contou que a primeira vez que a pararam ela já tinha 30 anos DE CARTA. Se tremeu toda também, desaprendeu a falar. Ainda bem que já foi logo comigo, era um dos meus medos.

E assim como todos meus medos: acontecem. Mas é bom, porque daí eu já vejo que não é assim aqueeeeeeeele monstro que eu imagino. Ainda tenho medo de atropelar ciclistas e velhos atravessando a rua. Não percam os próximos capítulos. 

quinta-feira, 30 de junho de 2011

os amigos que não tive ou evitava ter. q


Vida, sua comédia.
Fico pensando em como a gente cria falsas ilusões. A gente não, eu. Um exemplo: no meu antigo emprego, tinha um cara que eu tinha pouco contato, mas que só dele sentar na mesa com a gente, pra almoçar, eu já sentia náuseas. Arrogância exalava dele.
Talvez fosse o fato de saber que ele só tava ali porque tinha nome e assim ele conseguia as coisas ‘mais facilmente’. Assim até eu consigo, eu pensava.

Daí que o mundo deu uma voltinha e bang! Descobri que na nova proposta de emprego eu iria trabalhar junto com ele. Fiquei preocupado, pensando no santo que não ia bater, no jeito arrogante, no aparente mau humor matinal, nas intromissões. Lembrei do dia que ele me viu com meu Blackberry. Parecia criança descobrindo que o amiguinho sabia brincar do mesmo jogo dele. Queria saber de aplicativos que eu usava e só não pediu que eu o seguisse no twitter porque ele obviamente esperava que eu pedisse primeiro. Erro.

Bom, e lá to eu no emprego novo, sem carona, sem lugar pra almoçar... Ele já estava lá por um tempo e uma coisa levou à outra. A gente ia almoçar juntos, ele me dava carona algumas vezes até um lugar mais acessível. Nada de mais. Mas não tem como a gente não conhecer mais da pessoa.
Acabou que ele não era esse monstro todo. Tirando o mau humor matinal, to pra dizer que o acho até legal. A gente partilha alguns interesses em comum, acho até que temos um interesse em comum que ele ainda nem sabe, mas existe, que eu sei.

É bom trabalhar com gente que quando nos vê apurado, ajuda. Atenção: não vale SE DISPOR a ajudar, tem que de fato levantar o boomboom da cadeira, pegar um telefone, passar uns e-mails e, pronto, vir com a solução. Descobri que ele não tem medo das coisas banais, que ele não tem medo de abraçar problemas que nem dele são, que na real tem medo de nada, a não ser aranhas. Me senti idiota. Quase mal agradecido, por saber que com gente que temos em comum, eu cheguei a zombar da situação. Erro grave.

E o mais legal é que eu precisei ter isso no trabalho, pra identificar na vida quantas vezes eu fiz isso. Dá uma dor no peito, acho que se chama culpa... Ou arrependimento. Porque culpa a gente sente mesmo de algumas coisas, normal. Mas nem sempre rola um arrependimento verdadeiro. Gente que pelo pouco contato achamos ser uma coisa, ouve uma história perdida aqui, outra ali e opa, ta decidido, eu não vou com a cara dele. Nunca gostei, nunca vou gostar. PÃ!

Mas a vida, essa linda, sempre te dá esse tapinha na cara, com luva de pelica rosa e te aproxima de quem você não espera. Te surpreende. E então o sentimento é de como quando você descobre um seriado, que tanta gente já assistiu, mas você ainda desconhecia. É como ver um filme que adiava assistir e de repente se apaixona pela história. Aquele vazio, aquela sensação de tempo perdido. AI, se eu tivesse descoberto isso antes!

No caso específico, meu novo colega de trabalho vai ser transferido e sabe Deus o que me aguarda depois que ele sair de vez. Ele já não vem mais todos os dias, ta fazendo um tipo de treinamento. Bizarro: a sala fica mais quieta e eu sinto falta dele vir com o notebook na minha mesa, me mostrar um vídeo, ou uma imagem engraçada – nem sempre nova, mas. Comentar algo maldoso de alguém no Facebook dele e tudo mais.

Surge uma vontade de pedir desculpas, sabe. Mas daí imagina explicar que a pessoa antes não tinha mérito pra participar da tua vida, mas ela GANHOU isso. Haha
Soa pior, eu acho. A arrogância que antes eu só via nele notei que, ixi, tava em cima de mim também. Que coisa. E com todas as outras pessoas também... não deve valer a pena. Como diriam: quanto mais mexe, mais fede.

Que essa falta que ele já faz me sirva de lição. E que ela seja o suficiente pra eu nunca me esquecer, e assim, não ter mais essa sensação ruim. Já aprendi, Karma, pode parar. E pra ajudar, esses dias ele me ligou sem compromisso, só pra ver se tava tudo legal, me contou de um e-mail que recebeu. Assim, sem querer nada, sem precisar avisar nada... ‘Só pra dar um oi mesmo’.

Calma, não to insinuando nada não, longe... BEM LONGE disso. E olha que eu sou louco pra achar sinais onde não tem. Sério, não têm nada além de amizade nessa ligação dele. Mas de fato, me desconcertou. Pensei quantas ligações dessas eu já recebi. Dá pra contar nos dedos. E Deus me livre, também não quero, quem me conhece sabe que eu odeio telefone, salvo raras exceções – e trabalho. Quer me fazer feliz? Me manda um inbox, me conta teu dia no e-mail, abre aí a janela do msn. Mas pra quem não sabe disso, é de se considerar.

Nem sei porque to escrevendo sobre isso. É mais um note to self do que vontade de compartilhar. Mas que fique exposta aqui esta ferida. Vejam bem como ela é, porque dói. A minha eu to cuidado e passando remédio... logo fica tudo bem.

domingo, 5 de junho de 2011

Mixtape #010



Enjoy the Silents (Akira Yamaoka VS Morcheeba VS Benga & Coki) - Colatron
Go Outside - Cults
Black Song - White Lies
Lovesong - Adele
Taxi Cab - Vampire Weekend
Remember to Forget - Shane Mack
I Came Here to Get Over You - Brandon Flowers
Dancing at a Funeral - Brett Dennen
Life Love Laughter - Donavon Frankenreiter
The Bus - Peixoto & Maxado
FAIXA BÔNUS - *boooom*

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Average


As pessoas passvam borradas pelas janelas do metrô, que reduzia sua velocidade, parando na estação Luz. O horário de pico já havia terminado, não havia tumulto, não havia empurra-empurra. Uma senhora com um carrinho de feira, com alguma coisa embalada em saco plástico preto. Um senhor que mal se agüentava, segurando com toda sua frágil força onde conseguia, até sentar-se no banquinho azul claro. E um casal.

Digo casal por serem um homem e uma mulher, não por usarem alianças. Ambos por volta de seus vinte e cinco anos. Não se destacariam de ninguém, se estivessem sozinhos, mas juntos eles tinham essa combinação, essa energia comungada, que por um momento me despertou inveja. Uma boa inveja.

Ele estava com sua camisa social cinza, com as mangas dobradas até os cotovelos, dois botões abertos, mostrando uma camiseta branca básica. Calça preta, com o vinco da perna torto, sapato preto com um pé menos engraxado do que o outro. Sem pulseiras, sem colares, sem relógio. Um par de óculos de armação fina, lentes pequenas. Mochila preta, que ele tirou quando a porta do vagão abriu e segurou com as mãos.

Ela estava com uma blusinha vinho, bem caída no seu corpo e sem mangas. Calça jeans azul claro, um cinto largo marrom, com uma fivela simples. Um sapato social, com um salto baixo. Sem pulseiras, sem colares, sem relógio. Um brinco delicado, quase invisível. A bolsa no ombro esquerdo e uma pequena sacola plástica verde na outra.

Tinham o mesmo tamanho, o mesmo tom claro de pele, o mesmo sorriso bobo. Entraram sorrindo, como quando alguém acaba de ouvir uma história engraçada de alguém conhecido. Ele parou ao entrar e deixou que ela escolhesse onde iriam sentar. Sentaram-se perto de mim. Ele com a mochila preta no colo, com as mãos apoiadas, sem saber direito onde segurar. Ela colocou a sacola entre eles e segurou a bolsa em seu colo.

Conversavam em outra língua, na língua dos que amam. Ele olhava quase que com medo pra ela, ela sorria cada vez mais. O metrô já em movimento, ela verificou seu reflexo na janela, uma rápida e discreta passada de mão no cabelo. Ele se olhou, quase imitando o movimento. Ela sorriu e delicadamente passou o polegar na bochecha dele, com a desculpa de limpar algo. Um carinho tímido.

O metrô reduziu bruscamente a velocidade e ela não se segurou, aproveitou o embalo e deitou sua cabeça no ombro dele. Sem reação, ele brincava delicadamente com o zíper de sua mochila. Tomou coragem e levou sua mão para um cafuné. Que de tão desajeitado, só desmanchou o cabelo dela.

Levantou a cabeça e arrumou o cabelo. Ele sem jeito nenhum, encarava suas mãos, ainda brincando com o zíper. Ela voltou a repousar a cabeça nele, dessa vez sem desculpa nenhuma. Preparado, o carinho foi mais eficiente. Ela segurou a outra mão dele que estava sobre a mala.

Ele retomou o assunto, ela se lembrou de alguma coisa... Sorriam. O jeito que ela arrumava o cabelo, a forma que ele coçava o queixo. Eles se amavam tão descaradamente, sem quase se tocar, sem saber. Num momento ela me olhou, e era como se eu a conhecesse. E foi como se eu conseguisse ouvir seus pensamentos felizes, o olhar dela gritava que ela havia achado, que agora ia ficar tudo bem, tudo no seu lugar, do jeitinho que ela sempre sonhou.

O condutor anunciou a próxima estação e eles se olharam tristes. Mas ainda com aquele brilho no olhar. O metrô reduzindo e eles se abraçando desengonçados, se enroscando nas bolsas e sacolas. Um quase abraço. Tentaram se beijar do mesmo lado. Um quase-beijo. Ela se levantou, e ao lado do banco dele, esperava o metrô abrir as portas com a mão apoiada na barra. Ele delicadamente tocou nos dedos dela, como se quisesse dois segundos de contato a mais, como se quisesse dizer algo.

Uma última troca de olhares e um tchau tímido. Ele não se virou e perdeu o momento que ela olhou pra trás. Ela só o enxergava de costas, não podendo ver o sorriso estampado no rosto de um bobo sonhador, que acabou de entender, que havia encontrado seu verdadeiro amor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

miguel.


Luzes, música: lights and music... are on my mind… be my baby… one more time.

E mesmo quando duas bocas já conhecidas estão juntas algo pode acontecer, o acaso, o destino, o azar, a sorte. O já volto solta as mãos dadas, desfaz o abraço. O espaço que não existia ali, agora pode ser o que melhor é: uma oportunidade. A mão desconhecida toca o corpo e desperta o sentimento adormecido, as palavras rudes ao ouvido assustam e massageiam. A razão e o ego, confusos e grandes demais para permanecerem juntos neste momento. Uma proposta indecente, com direito a duplo sentido. Provavelmente a bebida. Não, não há engano.

O olhar conhecido reencontrado, a mão desconhecida após ordenar exclusividade se esvai, pela multidão, sumindo assim como chegou. Levando com ela o que não lhe era de direito. O beijo conhecido já não satisfaz, a mente foge pra outro lado do mundo, da pista, logo ali. A conquista. O olhar. O arriscado. E o medo? A vontade! O toque conhecido é teletransporte para o proibido, um portal para a alucinação, olhos fechados. Corpos unidos que estão separados e corpos separados que estão unidos.

Uma merecida despedida, meaningless. Uma presença acompanha à saída, meaningful. Um cigarro, um abraço pela cintura, conduzindo para o indiferente desconhecido. Sem luzes no carro, só um nome. Dois nomes. E só. Música! Risos para a batida já conhecida, já dançada distante.

Um apartamento. A porta branca, com um capacho à sua frente: Bem-Vindo. Irônico. As mão trêmulas. Minhas. Dele. Nossas. O clique da chave na fechadura. Fotografias de momentos felizes, algumas nostálgicas, algumas crianças que hoje em dia já nem devem se falar. Um sofá surrado, com cheiro de histórias. Um tapete desconfortavelmente gostoso. Dois que foram um. Que um para o outro eram nada senão mais um.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu não quero voltar sozinho.



E bem quando eu to tão desacreditado do mundo, me cai esse curta no colo, como que para me lembrar que a vida pode sim ser bonita. Estou apaixonado.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Meu coração ta disparado, meu corpo ta viciado.


Eu sempre tive um pezinho no interior. Desde muito pequeno eu costumava ir a Rio Preto pra casa de uma amiga da minha madrinha, que tem um filho da minha idade e com isso era a desculpa perfeita pras lindas se encontrarem, porque eu e o filho dela nos dávamos super bem e enquanto a gente brincava de matar os pintinhos (no pun intended) e jogar vídeo game (daqueles de mil jogos em um), as lindas botavam toda a fofoca em dia.

Conforme a gente foi crescendo, a amizade também continuava bem, obrigado, e daí que meus pais também começaram a ir pra lá, e começaram a se dar bem com os pais da amiga da minha madrinha e foi virando uma bola de neve de amor sem fim. Tanto que chamo os avós dele, que se chama Thiago, de vô e vó. E os irmãos dos avós dele, de tio e tia. É bem bizarro, porque a galera chega até achar que a gente é tudo parente de verdade. E ninguém desmente.

Quando a gente cresceu um pouco mais – entenda como aquela época delicada de escola, onde tudo é motivo de zoação – a gente se afastou um pouco, porque ele não era idiota e ele sabia que alguma coisa tava “errada” comigo. Né. E eu sabia que “estava”. Então daí a gente já não se falava tanto no MSN, ou melhor o MIRC, que era o que a gente usava HAHAHAHAHA e rolava também horas online com Tíbia e Carom que aos poucos foram terminando. E daí a gente ficou uns cinco anos sem se ver.

Três anos atrás o pai dele teve câncer e infelizmente faleceu. Um dos funerais mais tristes que eu já estive na minha vida. Ele era um querido. Na época foi bem doloroso, nós pegamos um vôo correndo pra lá e chegamos a tempo de dar um último tchau pro nosso amigo que não estaria mais em vida com a gente. E naquela época eu e o Thiago quase não nos falamos. Meio que não tinha o que se falar. Ficamos lá mais dois dias, mas foi como se tudo estivesse preso numa tarde sem fim, uma tarde de silêncio, de inconformidade.

E daí após esses, hum, oito anos mais ou menos que a gente se afastou – mesmo se vendo uma vez no triste intervalo – meu pai (que eu acho que sofreu mais do que a MÃE do Thiago, com o falecimento e tal) estava com saudade dos meus tios e dos meus avós, e marcou de ir lá pescar no rancho do meu tio. E eu peguei carona, porque né, to de férias.

Estranho que é minha segunda viagem seguida quebrando paradigmas. Eu não sabia o que me esperava lá. Eu só sabia que tudo estaria com certeza bem diferente do que costumava ser. E eu não sabia se isso seria tão legal assim. E eu – THANKS GOD – estava errado, e tava tudo bem legal.

Logo que eu cheguei, ele me avisou que um colega da faculdade estava de aniversário e teria cervejada no bar. Oh, o bar! Ponto pra teoria que prega que não há assunto mal resolvido que não se dê jeito numa mesa de bar, com uma gelada. Ele chegou do trabalho, eu estava chegando do aeroporto, ele trocou de roupa, entramos no carro e fomos buscar uma amiga dele.

Eu confesso que estava com medo. Talvez de alguma indiferença que ele pudesse fazer, do tipo, alguém perguntar quem era aquele estranho no ninho e ele falar pelas costas que era o amigo viadinho da mãe dele e que ele teve que trazer na marra. HAHA. Mas BANG eu estava errado. Ele me apresentou a todos, fez com que eu me sentisse em casa. Apesar de eu não entender como eles conseguiam só beber cerveja e ficar tão alegres. Sinto falta de uma vodka, de uma tequila, sei lá, qualquer coisa pra misturar e subir. Ok, era uma CERVEJADA, mas a gente tava num bar, era só pedir. Quando eu vi, estava sentado com dois amigos dele, fumando, bebendo e convidando-os pra passar uma temporada em São Paulo.

Claro que um deles era lindo, claro que eu esqueci de contar que comprei cigarro no meio do caminho e isso já ajudou a quebrar o gelo e daí a gente subentendeu que é, as coisas não são mais as mesmas, mas ta tudo bem agora. E claro que tava tocando sertanejo. O cantor tentou um pop-rock, uma levada MPB, mas o público era implacável. Fosse um tempo atrás eu fecharia a cara e começaria minhas orações pra ir embora, mas eu também to diferente. Liguei o foda-se e me entreguei ao sertanejo, bem como todos os outros (cornos) presentes.

Quando o papo tava ficando bom e eu já tinha virado uma cachaça com limão com meus novos amiguinhos, a namorada do Thiago ligou e a gente teve que embora. Veja bem, é complicado, ele namora escondido, com uma menor de idade, estamos no interior, tudo é difícil. Ela disse que teve um tempinho pra fugir e lá sai a gente dirigindo correndo pela madrugada. Encontramos a guria e eu – wasted – tive que convencê-la de que o senhor seu namorado não havia bebido uma gota de álcool sequer e que nem fumado tinha. E no caminho eu ia mandando altoids na garganta dele e oferecendo creme para as mão, porque né, é o tipo de coisa que todo mundo que faz coisa errada deve carregar na mochila.

A namoradinha desceu, falou cinco minutos e subiu de volta pro apartamento, possessa. Fiquei puto, porque tava super legal no bar e ELA veio se intrometer. Pivetinha abusada. O Thiago ta de olho no cabaço dela, mas desculpa, eu não tenho nada a perder não. Peguei o celular dele e liguei, exigindo que a quenga descesse, porque OI, eu vim de outra cidade, estava me divertindo numa situação adversa, ela vem interromper e agora não ta a fim de conversar com meu amigo, mais conhecido como SEU NAMORADO? PRA CIMA DE MIM NÃO, GURIA.

Ela desceu e acabou que ela é um amor de pessoa. E boba, porque acreditou que o cheiro de cigarro era só meu. E que o namorado dela tava bebendo não, aquilo era sono, tava tarde. RISOS.

Legal é que chegando na casa dele, já quebramos mais uma barreira, porque eu, o Thiago AAAAAAAAND a mãe dele, fumávamos escondidos. E a gente meio que sabia. Logo, cheguei já oferecendo cigarro e pronto, paz na terra entre os homens fumantes de boa vontade. Daí a gente ia fumar no porão, porque o resto da família não podia saber hihihi. Eu sei, também me pergunto se a gente ainda tem 12 anos de idade.

No outro dia fomos ao rancho. Que na verdade é um condomínio fechado, cheio de casas fabulosas que dariam pra ser apresentados numa versão brasileira de CRIBS (a do meu tio não inclusa, claro), só que é lá no meio do mundo, rodeado de mato e na beira de uma: represa. Ah, represinha ordinária.

Todos, tirando eu e a mãe do meu amigo, gostam de pescar. Daí a rotina era meio que eles madrugando pra sair com o barco e a gente acordando quando o sol nascia, pra poder pegar um bronze e ficar da cor do pecado. Eles lá, tostando no barco, a gente tostando na piscina. A diferença é que eu não ficava fedendo peixe e além disso ainda me hidratava com caipirinha e cerveja o dia todo @_@

Triste era quando eles voltavam a tarde e daí tinham que buscar isca pra pesca do dia seguinte. Mas assim, aqui em São Paulo, você quer pescar, você vai na casa de iscas, compra lá sua massinha, compra até umas coisas mais nojentas tipos, bichinho de laranja ou minhoca e PRONTO, TA LINDO, vai lá pegar teu peixe. Lá não, lá você tem que ir pegar camarão (!) na beira da represa. Mas claro, que não na parte espraiada e bonitinha, tem que ser nuns barrancos cabulosos, cheio de vida. Plantas terríveis, cheias de espinhos, que te fazem coçar, que não gostam de você, que querem seu mal, querem que você morra ali, enroscado em suas raízes. E junto a estes visgos do diabo, há também mosquitos altamente treinados em sugar toda sua essência e pousar nos lugares mais difíceis, onde você não consiga de forma alguma afastá-los. E ah, eu mencionei que capturar os pobres dos camarões está proibido nesta época do ano? ALO POLÍCIA, NÃO SEI DE NADA, EU FUI COAGIDO. E fora isso, os donos dos terrenos lá em volta do condomínio, têm que afastar o gado de terceiros e daí como eles fazem isso? Com deliciosos fios de alta tensão, que assustam quando o chifrudo vai lá e mete a cara no fio e toma um TUIN de volta. Sim, e se tudo isso ainda não bastasse, ainda tem tipo uns CARANGUEIJOS que te beliscam o pé. GENTE, EU JURO. Sabia nem que tinha tanto bicho assim em água doce. Sem comentar sobre os possíveis bichos que poderíamos encontrar em terra. Coisa pra se contar pros netos.

Mas me pegaram nessa furada só por um dia, depois prometi que não voltava lá não, desculpa. E passei minhas tardes na rede, porque o sol era forte demais. E de noite, fumávamos o mais delicioso cigarro de palha que eu já experimentei. Apaixonei de um jeito, que só não fui atrás dele em alguma tabacaria por aqui por falta de tempo.

Sei que deu apertinho no coração na hora de voltar. Agora que dois grandes velhos amigos sabem tudo sobre mim, estão bem com isso e ainda podem acender um cigarrinho sem medo e passar horas falando merda comigo é de fazer a gente se relutar a querer a voltar pra vida real. Mas isso seria impossível e eu também tenho noção de que é um estado temporário de paz de espírito. Não demoraria pra eu começar a sentir falta da vidinha noturna. Mas ainda assim, chego a dizer que não foi boa, essa minha viagem foi necessária. E hoje, último dia de férias, posso dizer que deu sim, pra curtir, pra me estragar, pra descansar e pra pensar um pouco sobre essa minha senseless vida.








quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um último tiro no escuro.



- Ela viria cedo, se viesse. Ela sabe que se demorar, não entra. Se não veio até agora é porque não quer vir. Ou quer ter certeza de que não vai dar pra entrar.
- Você não sabe disso.
- Sim, eu sei sim.
- Vocês precisam se resolver, mas ainda assim, não aqui. Ninguém quer ter DR no meio da festa. Ou vão ficar os dois chorando, ou ainda mais brigados.
- A gente nunca brigou.
- Brigados, desentendidos, afastados... use a que quiser.
- ...
- E para de olhar pra lá, ela vem desse lado.
- Não, ela vem desse agora.
- Mas ela mora pra lá.
- Mas quando ela ta de carro, ou taxi, ou carona, ela vem por aqui.
- Como você pode saber disso?
- Eu só sei.
(...)


E veio, com aquele seu jeitinho de andar meio pulandinho, com o jeito que só ela prende o cabelo, fuçando nas pontinhas da mecha que sempre fica caída em seus ombros. Ela sempre fica enrolando o cabelo quando ta high. Ou nervosa demais. Ou os dois. Um oi. Dois ois. Ufa, três ois.

Eu queria abraçá-la por mais tempo. Perguntar se ta tudo bem mesmo, porque meu medo é de que não esteja. E se estiver tão errado quanto está pra mim, não sei se ela agüentaria. Mas ela parece estar bem. Então, é, só eu que estou sentindo falta do que eu nunca quis perder. Aliás, sentindo falta de alguém que eu admirei desde o primeiro momento. Até confundir sentimento já confundi.

Se declarar pra amigo é coisa difícil e que poucos corajosos arriscam fazer. Mas de todos os meus segredos, o único que eu não consigo esconder é o que estou sentindo. Falei na época e ouvi o que não queria, mas já esperava. Com o tempo vai passar – eu pensava. Não passou. Pelo contrário, só aumentou. Aumentou mais do que uma simples paixão, cresceu para um amor maior, que não cabe só no coração. Ele se espalha para seu corpo todo, para sua mente, para sua alma. A mais pura amizade. E de repente você não entende como sua vida pode um dia fazer sentido sem aquela amizade gostosa, pra quem você corre todo dia para contar absolutamente tudo. Enxergando sincronia em tudo o que é dito, em tudo o que é vivido.

Só que isso nos é tirado como se um ladrão, passando de bicicleta, puxasse seu colar. Primeiro o baque, sem entender o que está acontecendo. Depois você nota que algo está faltando, sem ainda entender você fica com raiva, muita raiva. Até que você entende que não pode fazer mais nada. O colar se foi. Você estará com ele em fotos, você se lembrará de como ficava bem com ele, de quantos momentos ele esteve com você. Quantos segredos ele não vivenciou com você? O que ele sabe? O que ele NÃO sabe?

Tanto pra se falar e apenas duas frases proferidas. Costas viradas, conversas em baixo tom. Um beijo, dois beijos. Nada de três dessa vez. Não sei, talvez ela não consiga mesmo se despedir. Minha vontade era sair correndo e agarrá-la pelo braço, forçar um abraço para que ela perdesse o ar. E com lágrimas nos olhos implorar por uma resposta. O que diabos aconteceu?

Mas eu já tentei isso. DUAS VEZES. E nenhuma resposta. Uma terceira vez seria emocionalmente desgastante demais e eu não sei, sinceramente, o que eu poderia fazer depois. Comigo, eu digo. Com ela eu nunca desejei nem nunca desejarei mal algum. Ela sabe disso. ELA SABE. Aliás, o que ela NÃO sabe?

O mais difícil é que quase ninguém sabe de metade do que está acontecendo. Então todos querem saber como ela está. E se a gente se viu. E se foi incrível. E por quê isso ou aquilo não aconteceu. Um suspiro longo, um sorriso amarelo e uma estratégica mudança de assunto. Sempre funciona. Ninguém quer de fato saber das coisas da sua vida. As pessoas só gostam de demonstrar que SABEM um pouco da sua vida. Por isso citam nomes e te lembram de alguma ocasião. As únicas exceções são essas pessoas, como ela, que não precisam perguntar se você ta bem, porque ela sabe. E que não precisa de permissão pra contar que ta passando pelo paraíso, ou pelo inferno. Você estará sempre lá e ela estará sempre lá... não é? Parece que não.

E o mais injusto que é outras pessoas que você ama tanto quanto, são obrigadas a ficar ouvindo seus questionamentos quanto a tudo o que está acontecendo. E elas se sentem incapazes e, talvez, até inferiorizadas, pelo amor delas não bastar. Mas não é questão de quantidade de amor. Não há ‘amar de mais’ ou ‘amar de menos’. Amar só tem uma medida. E se você consegue amar alguém mais, ou menos, é porque você não ama at all.

Eu só precisava desabafar, porque fazer eu não sei se ainda me resta algo além de sms, e-mail, MSN e presença física depois de viagem interestadual. Penso em telepatia. Na pior das hipóteses, fico te perturbando de longe, como eu sempre fiz. E você nunca pareceu se importar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Home


Que eu amo Curitiba não é novidade nenhuma. Mas eu acho incrível como cada vez que eu vou pra lá eu volto mais e mais apaixonado. Com mais vontade de mudar minha vida, com mais vontade de mudar PRA LÁ. Hahaha

Eu estava super preocupado com essa viagem, ou melhor, apreensivo. Não sei. Muita coisa ta diferente desde a última vez que eu pisei por lá. Fiquei com medo do que poderia acontecer e do que poderia ~não~ acontecer. Eu estava rodeado de pessoas que eu amo e isso já me basta para que entre no meu top melhores momentos em vida. Mas eu devo admitir que não ter alguém com quem a gente está acostumado a ter ao nosso lado o tempo todo é horrível. É quase o mesmo sentimento de quando se está apaixonado, aquela sensação de que a pessoa irá saltar detrás de alguma coluna no shopping, ou vai passar de carro, ou vai atravessar a rua bem na sua frente. Sabe? Não desejo pra ninguém.

Eu poderia sim fazer um post gigante com tudo o que aconteceu, mas vou deixar que um vídeo Windows movie maker total diga por mim como foi um pouco desta viagem. Só tenho pra dizer que Batalha de Ipods é meu novo conceito de disputa, Volley é meu novo esporte favorito e agora é oficial, só gosto de gente mais velha.


Detalhe que fiquei EM CRISE pra escolher a música pra trilha sonora. Mas se fosse pra rolar uma playlist, seria esta:
AH, SEM ESQUECER DESSES DOIS CLÁSSICOS DA MPB

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

tchau, guaralhos.

Tenho uma nova concepção de vida, que diz que todo mundo precisa se mudar ao menos uma vez na vida. O que eu acho até meio que inevitável, porque oi, uma hora você vai ter que no mínimo abrir suas lindas e longas asas e voar pra longe de papai e mamãe, porque crescer faz bem. O que não é o meu caso, porque minhas asas ainda não são longas o suficiente. Ou mesmo que você viva com seus pais até que eles pereçam, seria legal respirar novos ares e se arriscar um pouco, não acha? Conquistar o que é seu e não o que foi deixado pra você. Just saying. O que também não é meu caso.

Eu estou me mudando dessa vez por falta de espaço mesmo, minha mãe que mais parece trabalhar pro serviço de menores abandonados, acabou por abrigar há uns anos atrás duas primas minhas que estavam numa fase difícil. Até aí tudo bem, nada contra, super apoiei, porque meu sangue tava no rolo também, família é pra essas coisas e etc.

Só que minha mãe esqueceu que ela não ta no mundo mágico, ela fez multiplicar os pães e os peixes, fez a água virar vinho e ta até curando os doentes, mas o feitiço extensor foi um pouco demais pra ela e daí foi ponto pra realidade, PONTO!

Não estou reclamando. Era um inferno dormir na sala e perder toda a minha privacidade? Era. Mas eu abri mão disso, não ela. Eu fiz questão disso na época e não me arrependo. Porque infelizmente todo mundo é assim, todos nós precisamos perder uma ou duas coisas pra sentir falta delas. É a vida acontecendo, senta aí e relaxa.

Só que todo mundo já estava estressado, um humilde apartamento onde sete pessoas moram, com um banheiro e uma das pessoas (oi, tudo bom?) dormindo na sala é meio complicado, incômodo e causa desconforto pra todo mundo. Sem mencionar os horários. Um acorda às 4:30, outro às 6:00, outro às 7:00. O horário da escola das crianças, fazer almoço pra todo mundo, dor de barriga conjunta... São tantos fatores que não sei nem enumerar, mas é algo que se imagine fácil, tenho certeza de que não é necessário fumar nenhum baseado pra pegar uma brisa louca e assim imaginar esta loucura. O processo é simples.

Bom, daí que finalmente resolvemos nos mudar, fizemos contas e mais contas, porque né, rico a gente não é pra sair por aí comprando casa e mobiliando. Rola toda uma dificuldade de planejamento. Mesmo tendo dois administradores em casa. Um quase formado (oi, tudo jóia?).

Depois de muito procurar, achamos. O bairro é legal, é perto (veja que tudo se torna perto quando você morava a no mínimo duas horas de qualquer coisa legal que se tenha pra fazer) de metrô, do nosso trabalho e o mais importante: estamos na civilização. Não que Guarulhos não fosse, muito pelo contrário. A oitava economia do país (sono) vai muito bem, obrigado. Até bilhete único ela tem agora. Cidade grande com tudo o que alguém precisa, nem sempre com tudo o que se quer, diga-se de passagem. O que mais vislumbra alguém por morar em São Paulo é você poder ter opções. Ótimo que outras cidades têm de tudo. São Paulo tem várias opções do tudo. E é isso o que eu quero, desculpa, sou assim, fútil. AI TEM UM ÓTIMO BAR EM GUARULHOS QUE EU AMO SUPER DESCOLADO. Lindo, mas Sampa tem oito desse estilo e eu escolho um ou outro dependendo do dia, se quero sentar em mesa de vidro, ou mesa de madeira. Entende?

Passado essa discussão até mesmo em casa, porque nego ainda achava que Guarulhos compensava, passada a escolha das casas, passados os cálculos, passado tudo, fechamos o negócio aqui. Ufa, pronto, acabou o pesadelo! Certo? Errado.

Você não sabe o quanto você tem até que você tenha que embalar tudo. Embalar é uma arte. EU SEI EU SEI, liga na Granero que ó, eles vêm, embalam tudo, entregam na casa nova e BANG, sua vida nova ta pronta pra começar. Mas daí a conta sobe vários mil reais, não sei se te contaram. Corte de gastos, vamo lá.

Delícia é você realizar a muvuca em que a gente estava vivendo, daí você imagina tudo fora dos armários e encaixotado. NUM.FUCKING.APÊ. Not funny. Se alguém espirrar, tudo cai. Chega a ser engraçado. Eu me divirto. Mas eu me divirto com tudo, aprendi a ser assim. Daí pra mim ta tudo lindo, mas a tensão entre os outros participantes desse reality show chamado minha vida é tão grande que logo eles vão combinar voto na caruda e deixar o público decidir.

Gostoso mesmo é ir em lojas de construção pra escolher tintas e coisinhas desse tipo. Gostoso é ir nessas lojas de decoração pra ver os móveis, os frufrus, os tudo lindo. Desgostoso é ver seu cartão de crédito. Desgostoso é ver que, é, não vai dar pra levar tudo isso não, bora rever issaê.

Parabéns, se você chegou até esse ponto, você já valorizou cada coisinha velha e útil da sua casa antiga, você já valorizou que porra, você tem coisa pra caramba, porque ainda tem coisa fora da caixa e logo, logo, tem caminhão de mudança encostando na tua porta. Você valorizou seu bairro, porque a padaria de lá é uma quadra mais longe. Etceteras infinitos.

Seu sonho agora vai ser que o Luciano Huck rasgue a pele do seu pai e saia falando que opa, é tudo pegadinha, na verdade a sua casa ta sendo construída em outro lugar e vocês agora vão todos passar uma semaninha no Beach Park enquanto a gente resolve umas paradas aí pra vocês. Loucura, Loucura, Loucura.

Mas não. A outra casa ta lá ainda meio crua e seu pai vai precisar de ajuda, sabe? Aí você vai ter que pintar seu quarto AND o dos outros. E aí começa o processo de valorizar a nova casa. Você nota que, porra, a casa é grande pra caralho, ein. Você de repente nota que teu quarto é gigante e pintar a porra do gesso de cinco centímetros de uma cor e a parede de outra é um desafio de uma dificuldade e paciência, que você quase entende os vários dinheiros que o pintor profissional pede pra pintar bonitinho o que, oi, nem é dele. Meu pai já trabalhou com pintura, então ele tem as manhas, mas ainda assim, eu só nos retoques e fiquei exausto. Ele com seus sessenta e uns anos deve estar morto.

Pintamos, ta tudo lindo agora. Daí, claro, surge outro problema. A gente pegou a chave daqui faz umas duas semanas. Uma semana pra fazer o mais grosso, e daí não foi a gente, a outra semana a gente colocou os detalhes mais mimimis, ok. E desde sexta que a gente ta aqui, aguardando o povo da luz vir ligar o caralho da energia elétrica. QUE DIFICULDADE, SENHOR. Ligamos na segunda feira e a mocinha informou que, olha, passou gente sim, mas o portão tava fechado. ESCUTA. Quem hoje dia deixa o portão aberto? Ela não assiste aos noticiários? Minha mãe assiste e olha, não ta nada bonito aí fora. O cara que vem não sabe bater no portão? Bater palmas? Gritar ô de casa? Ou será que ele foi lindo o suficiente e só tocou a campainha? Nunca saberemos. O que fode é que a gente não saiu daqui. A sacada ta aberta, a gente respira e faz eco pela casa toda. NÃO HÁ A POSSIBILIDADE de se achar que não tem ninguém aqui. A gente ainda acha que tão enrolando a gente e passou ninguém aqui não.

Informaram que hoje vem alguém. Oremos. Depois do nervoso e horas perdidas, descobrimos que se for alguém lá pessoalmente tem como agendar um horário. Mas oi, todo mundo trabalha, olha a nossa cara de estou indo lá pessoalmente. Não vai rolar. Ok, eu estou de férias, mas porra, eu já to trabalhando o suficiente aqui, to afim de ir até a pqp pra marcar horário não. Não me olhe desse jeito. Se nego falou que em dois dias úteis vinham, deveriam ter vindo.

Hoje tem uma tia limpando aqui, tirando o pó das reforminhas, lavando os vidros e tudo mais. Amanhã terminamos de embalar as coisas e sexta está programado pra gente se mudar. Mas já ouvi dizer que talvez seja sábado pela manhã. O que pra mim não faz diferença, porque sexta pela manhã estou indo pra Curitiba porque oi, eu estou de férias e não fériei ainda. Ou vocês pensaram que eu ficaria nesse caos de mudança a vida toda?

Mentira, não foi nada premeditado, eu já tinha comprado as passagens faz tempo, me deixa ser feliz. Sei que a maioria das MINHAS coisas já estão embaladas - e BEM embaladas, porque eu já avisei que quando eu chegar quero ver tudo como eu deixei: dentro das caixas. Porque quem não deve, não teme. E eu devo, temo e to desesperado. Mas confio.

Não vejo a hora desse embala-desembala acabar, pra que tudo possa, enfim, começar. Sabe quando você sente que dessa vez vai tudo mudar de verdade? Uma mudança física que vai desenfrear várias outras mudanças?

Eu num geral gosto de mudanças, acho que é o que nos faz viver. Viver estagnado é triste e eu não quero isso pra mim, nem pra ninguém. Dou o maior suporte pra todo mundo que vem me dizer que ta querendo mudar de emprego, de vida, de namorado, de sexo... Estamos dando um pulo no escuro e enchendo nossos cus de dívidas monstruosas, mas é assim que o mundo gira.

E mesmo com tanta coisa dando errado na minha vida, agora eu posso dizer, que olha, to feliz. To animado, to inspirado. Aquele sentimento de mudar o mundo, sabe? De que no final, vai sim dar tudo muito certo. Só não pode acabar a bateria do note.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

chora, negada.


Eu queria era fazer uma bem animada, pra exercitar todos os movimentos púbicos que uma pessoa possa ter, mas o momento é outro e eu não consegui. Como eu comentei no twitter, uma música é total Breno e Érika pra mim - Never Let Me Go. O restante são pedacinhos da minha vida que estão por aí jogados em algum canto.
Só ouça quando estiver na vibe QUE BELO DIA PRA UM SUICÍDIO etc

Pegue sua garrafinha de whisky, acenda seu cigarro, sente-se naquela mesinha velha, toda descascada, de frente da tua janela, sinta o cheiro da noite e comece a escrever uma história de amor. Ou melhor, uma história sobre amor. Para que alguém um dia possa ler e suspirar, assim como hoje eu suspiro ao ouvir qualquer uma dessas músicas.

x

on and on.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Please.





"It had never occurred to me that our lives, so closely interwoven, could unravel with such speed. If I'd known, maybe I'd have kept tighter hold of them."

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gatos e Cenouras


A Paula ontem mandou um e-mail pra mim e pro Vic, com um texto lindo, que segundo ela, assim que ela leu lembrou da gente.

O telefone tocou. Queriam uma entrevista sobre o livrinho “O gato que gostava de cenouras”. Não entendi o nome da revista porque estou ficando meio surdo e, por vergonha, não pedi que repetissem. A entrevista começou…
Gato gosta de peixe, de rato e de passarinho. Gato não gosta de cenoura. Numa terra de gatos, um gato que gostasse de cenoura seria uma aberração, uma vergonha para os pais, motivo de chacota e zombaria na escola…
O nome dele era Gulliver; carinhosamente, Gullinho. Seus pais não sabiam do seu gosto pelas cenouras. Comer cenouras era um ato secreto, escondido. Seus pais só se preocupavam com o fato de que ele não comia os deliciosos ratinhos recém-nascidos, os pardais saborosos, os peixes cheirosos que lhe traziam para abrir o apetite.
Gullinho era diferente dos demais gatos. E isso fazia seus pais sofrerem muito porque o que os pais mais desejam é que seus filhos sejam iguais aos outros.
O fato era que os pais de Gullinho ignoravam que ele, escondido, comia a comida proibida, cenoura… A mãe acabou por desconfiar das incursões secretas do Gullinho e disse ao pai que seria melhor segui-lo para ver onde ele estava se metendo. Foi o que o pai “sogateiramente” fez.
Gullinho caminhava com cuidado, olhando para todos os lados para ver se estava sendo seguido. Andou até chegar ao sítio do senhor Joaquim. Havia canteiros com todos os tipos de hortaliça. Gullinho foi até o canteiro de cenouras e -oh! Coisa horrenda para um pai gato- começou a comer cenouras.
O pai do Gullinho quase morreu de susto. Seu filho que ele sonhara tigre não passava de um coelho. E chorou amargamente…
Resolveu procurar auxílio. Procurou um padre que ameaçou Gullinho com o Inferno. “Deus é gato. Deus ordenou que nós comêssemos peixes, ratos e passarinhos.Comer cenoura é pecado mortal!” Mas não adiantou…Gullinho continuou a vomitar peixes, ratos e passarinhos…
Aí eles o levaram ao psicanalista. A análise durou vários anos. Mas o que o doutor Gatan lhe dizia com linguagem complicada não alterava o seu gosto: ele continuava a gostar de cenouras…
Foi então que um professor da escola chamou o Gullinho para uma conversa e lhe disse: “O nosso destino está escrito nas células do nosso corpo num “chip” bem pequeno chamado DNA. Ele já está no feto, determinando a cor do seu pelo, a cor dos seus olhos, se você vai ser menino ou menina, daltônico ou não, canhoto ou destro. Você nada pode fazer para mudar as ordens que estão no seu “chip”. E acontece o mesmo com o nosso gosto por ratos ou por cenouras… Não é pecado, como o padre disse, porque foi o DNA que o fez assim… Não é resultado de educação porque foi o DNA que o fez assim… E nem pode ser curado, como se fosse uma doença, porque é o DNA que o fez assim… Igual ao daltonismo”.
Gullinho olhou em silêncio para o professor e, pela primeira vez, entendeu tudo. E ele sentiu que um enorme peso fora tirado de cima dele. Entendeu então que ele podia gostar de cenoura porque fora o DNA que o fizera assim -e ninguém tinha nada com isso.
Eu ainda estava na cama quando minha filha me acordou.
“Pai, você apareceu na “G Magazine”, a reportagem do gato…”
“Mas o que é “G Magazine’?”, perguntei.
Aí eu entendi por que o assunto da entrevista tinha sido “O gato que gostava de cenouras”…
Entendi o "gato"... E as "cenouras".

O texto é do Rubem Alves e ela leu numa revista de educação, é tudo o que sei.
E sei também que eu gostaria de ter lido esse livro. Em meio a tantos livros do colégio, lá no primário eles deveriam deixar um ou dois desses exemplares perdidos, pra que alguém pudesse pegá-lo e entender que não é errado gostar de cenouras. E repassar a idéia.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Gifs - Um amor.

Ainda não são perfeitos, mas fiquei tão feliz de conseguir fazer sozinho, sem ser por programa que nem aqueles da Katy Perry que eu postei aqui.


Um novo amor.
Bom ano novo!