quarta-feira, 9 de março de 2011

miguel.


Luzes, música: lights and music... are on my mind… be my baby… one more time.

E mesmo quando duas bocas já conhecidas estão juntas algo pode acontecer, o acaso, o destino, o azar, a sorte. O já volto solta as mãos dadas, desfaz o abraço. O espaço que não existia ali, agora pode ser o que melhor é: uma oportunidade. A mão desconhecida toca o corpo e desperta o sentimento adormecido, as palavras rudes ao ouvido assustam e massageiam. A razão e o ego, confusos e grandes demais para permanecerem juntos neste momento. Uma proposta indecente, com direito a duplo sentido. Provavelmente a bebida. Não, não há engano.

O olhar conhecido reencontrado, a mão desconhecida após ordenar exclusividade se esvai, pela multidão, sumindo assim como chegou. Levando com ela o que não lhe era de direito. O beijo conhecido já não satisfaz, a mente foge pra outro lado do mundo, da pista, logo ali. A conquista. O olhar. O arriscado. E o medo? A vontade! O toque conhecido é teletransporte para o proibido, um portal para a alucinação, olhos fechados. Corpos unidos que estão separados e corpos separados que estão unidos.

Uma merecida despedida, meaningless. Uma presença acompanha à saída, meaningful. Um cigarro, um abraço pela cintura, conduzindo para o indiferente desconhecido. Sem luzes no carro, só um nome. Dois nomes. E só. Música! Risos para a batida já conhecida, já dançada distante.

Um apartamento. A porta branca, com um capacho à sua frente: Bem-Vindo. Irônico. As mão trêmulas. Minhas. Dele. Nossas. O clique da chave na fechadura. Fotografias de momentos felizes, algumas nostálgicas, algumas crianças que hoje em dia já nem devem se falar. Um sofá surrado, com cheiro de histórias. Um tapete desconfortavelmente gostoso. Dois que foram um. Que um para o outro eram nada senão mais um.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu não quero voltar sozinho.



E bem quando eu to tão desacreditado do mundo, me cai esse curta no colo, como que para me lembrar que a vida pode sim ser bonita. Estou apaixonado.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Meu coração ta disparado, meu corpo ta viciado.


Eu sempre tive um pezinho no interior. Desde muito pequeno eu costumava ir a Rio Preto pra casa de uma amiga da minha madrinha, que tem um filho da minha idade e com isso era a desculpa perfeita pras lindas se encontrarem, porque eu e o filho dela nos dávamos super bem e enquanto a gente brincava de matar os pintinhos (no pun intended) e jogar vídeo game (daqueles de mil jogos em um), as lindas botavam toda a fofoca em dia.

Conforme a gente foi crescendo, a amizade também continuava bem, obrigado, e daí que meus pais também começaram a ir pra lá, e começaram a se dar bem com os pais da amiga da minha madrinha e foi virando uma bola de neve de amor sem fim. Tanto que chamo os avós dele, que se chama Thiago, de vô e vó. E os irmãos dos avós dele, de tio e tia. É bem bizarro, porque a galera chega até achar que a gente é tudo parente de verdade. E ninguém desmente.

Quando a gente cresceu um pouco mais – entenda como aquela época delicada de escola, onde tudo é motivo de zoação – a gente se afastou um pouco, porque ele não era idiota e ele sabia que alguma coisa tava “errada” comigo. Né. E eu sabia que “estava”. Então daí a gente já não se falava tanto no MSN, ou melhor o MIRC, que era o que a gente usava HAHAHAHAHA e rolava também horas online com Tíbia e Carom que aos poucos foram terminando. E daí a gente ficou uns cinco anos sem se ver.

Três anos atrás o pai dele teve câncer e infelizmente faleceu. Um dos funerais mais tristes que eu já estive na minha vida. Ele era um querido. Na época foi bem doloroso, nós pegamos um vôo correndo pra lá e chegamos a tempo de dar um último tchau pro nosso amigo que não estaria mais em vida com a gente. E naquela época eu e o Thiago quase não nos falamos. Meio que não tinha o que se falar. Ficamos lá mais dois dias, mas foi como se tudo estivesse preso numa tarde sem fim, uma tarde de silêncio, de inconformidade.

E daí após esses, hum, oito anos mais ou menos que a gente se afastou – mesmo se vendo uma vez no triste intervalo – meu pai (que eu acho que sofreu mais do que a MÃE do Thiago, com o falecimento e tal) estava com saudade dos meus tios e dos meus avós, e marcou de ir lá pescar no rancho do meu tio. E eu peguei carona, porque né, to de férias.

Estranho que é minha segunda viagem seguida quebrando paradigmas. Eu não sabia o que me esperava lá. Eu só sabia que tudo estaria com certeza bem diferente do que costumava ser. E eu não sabia se isso seria tão legal assim. E eu – THANKS GOD – estava errado, e tava tudo bem legal.

Logo que eu cheguei, ele me avisou que um colega da faculdade estava de aniversário e teria cervejada no bar. Oh, o bar! Ponto pra teoria que prega que não há assunto mal resolvido que não se dê jeito numa mesa de bar, com uma gelada. Ele chegou do trabalho, eu estava chegando do aeroporto, ele trocou de roupa, entramos no carro e fomos buscar uma amiga dele.

Eu confesso que estava com medo. Talvez de alguma indiferença que ele pudesse fazer, do tipo, alguém perguntar quem era aquele estranho no ninho e ele falar pelas costas que era o amigo viadinho da mãe dele e que ele teve que trazer na marra. HAHA. Mas BANG eu estava errado. Ele me apresentou a todos, fez com que eu me sentisse em casa. Apesar de eu não entender como eles conseguiam só beber cerveja e ficar tão alegres. Sinto falta de uma vodka, de uma tequila, sei lá, qualquer coisa pra misturar e subir. Ok, era uma CERVEJADA, mas a gente tava num bar, era só pedir. Quando eu vi, estava sentado com dois amigos dele, fumando, bebendo e convidando-os pra passar uma temporada em São Paulo.

Claro que um deles era lindo, claro que eu esqueci de contar que comprei cigarro no meio do caminho e isso já ajudou a quebrar o gelo e daí a gente subentendeu que é, as coisas não são mais as mesmas, mas ta tudo bem agora. E claro que tava tocando sertanejo. O cantor tentou um pop-rock, uma levada MPB, mas o público era implacável. Fosse um tempo atrás eu fecharia a cara e começaria minhas orações pra ir embora, mas eu também to diferente. Liguei o foda-se e me entreguei ao sertanejo, bem como todos os outros (cornos) presentes.

Quando o papo tava ficando bom e eu já tinha virado uma cachaça com limão com meus novos amiguinhos, a namorada do Thiago ligou e a gente teve que embora. Veja bem, é complicado, ele namora escondido, com uma menor de idade, estamos no interior, tudo é difícil. Ela disse que teve um tempinho pra fugir e lá sai a gente dirigindo correndo pela madrugada. Encontramos a guria e eu – wasted – tive que convencê-la de que o senhor seu namorado não havia bebido uma gota de álcool sequer e que nem fumado tinha. E no caminho eu ia mandando altoids na garganta dele e oferecendo creme para as mão, porque né, é o tipo de coisa que todo mundo que faz coisa errada deve carregar na mochila.

A namoradinha desceu, falou cinco minutos e subiu de volta pro apartamento, possessa. Fiquei puto, porque tava super legal no bar e ELA veio se intrometer. Pivetinha abusada. O Thiago ta de olho no cabaço dela, mas desculpa, eu não tenho nada a perder não. Peguei o celular dele e liguei, exigindo que a quenga descesse, porque OI, eu vim de outra cidade, estava me divertindo numa situação adversa, ela vem interromper e agora não ta a fim de conversar com meu amigo, mais conhecido como SEU NAMORADO? PRA CIMA DE MIM NÃO, GURIA.

Ela desceu e acabou que ela é um amor de pessoa. E boba, porque acreditou que o cheiro de cigarro era só meu. E que o namorado dela tava bebendo não, aquilo era sono, tava tarde. RISOS.

Legal é que chegando na casa dele, já quebramos mais uma barreira, porque eu, o Thiago AAAAAAAAND a mãe dele, fumávamos escondidos. E a gente meio que sabia. Logo, cheguei já oferecendo cigarro e pronto, paz na terra entre os homens fumantes de boa vontade. Daí a gente ia fumar no porão, porque o resto da família não podia saber hihihi. Eu sei, também me pergunto se a gente ainda tem 12 anos de idade.

No outro dia fomos ao rancho. Que na verdade é um condomínio fechado, cheio de casas fabulosas que dariam pra ser apresentados numa versão brasileira de CRIBS (a do meu tio não inclusa, claro), só que é lá no meio do mundo, rodeado de mato e na beira de uma: represa. Ah, represinha ordinária.

Todos, tirando eu e a mãe do meu amigo, gostam de pescar. Daí a rotina era meio que eles madrugando pra sair com o barco e a gente acordando quando o sol nascia, pra poder pegar um bronze e ficar da cor do pecado. Eles lá, tostando no barco, a gente tostando na piscina. A diferença é que eu não ficava fedendo peixe e além disso ainda me hidratava com caipirinha e cerveja o dia todo @_@

Triste era quando eles voltavam a tarde e daí tinham que buscar isca pra pesca do dia seguinte. Mas assim, aqui em São Paulo, você quer pescar, você vai na casa de iscas, compra lá sua massinha, compra até umas coisas mais nojentas tipos, bichinho de laranja ou minhoca e PRONTO, TA LINDO, vai lá pegar teu peixe. Lá não, lá você tem que ir pegar camarão (!) na beira da represa. Mas claro, que não na parte espraiada e bonitinha, tem que ser nuns barrancos cabulosos, cheio de vida. Plantas terríveis, cheias de espinhos, que te fazem coçar, que não gostam de você, que querem seu mal, querem que você morra ali, enroscado em suas raízes. E junto a estes visgos do diabo, há também mosquitos altamente treinados em sugar toda sua essência e pousar nos lugares mais difíceis, onde você não consiga de forma alguma afastá-los. E ah, eu mencionei que capturar os pobres dos camarões está proibido nesta época do ano? ALO POLÍCIA, NÃO SEI DE NADA, EU FUI COAGIDO. E fora isso, os donos dos terrenos lá em volta do condomínio, têm que afastar o gado de terceiros e daí como eles fazem isso? Com deliciosos fios de alta tensão, que assustam quando o chifrudo vai lá e mete a cara no fio e toma um TUIN de volta. Sim, e se tudo isso ainda não bastasse, ainda tem tipo uns CARANGUEIJOS que te beliscam o pé. GENTE, EU JURO. Sabia nem que tinha tanto bicho assim em água doce. Sem comentar sobre os possíveis bichos que poderíamos encontrar em terra. Coisa pra se contar pros netos.

Mas me pegaram nessa furada só por um dia, depois prometi que não voltava lá não, desculpa. E passei minhas tardes na rede, porque o sol era forte demais. E de noite, fumávamos o mais delicioso cigarro de palha que eu já experimentei. Apaixonei de um jeito, que só não fui atrás dele em alguma tabacaria por aqui por falta de tempo.

Sei que deu apertinho no coração na hora de voltar. Agora que dois grandes velhos amigos sabem tudo sobre mim, estão bem com isso e ainda podem acender um cigarrinho sem medo e passar horas falando merda comigo é de fazer a gente se relutar a querer a voltar pra vida real. Mas isso seria impossível e eu também tenho noção de que é um estado temporário de paz de espírito. Não demoraria pra eu começar a sentir falta da vidinha noturna. Mas ainda assim, chego a dizer que não foi boa, essa minha viagem foi necessária. E hoje, último dia de férias, posso dizer que deu sim, pra curtir, pra me estragar, pra descansar e pra pensar um pouco sobre essa minha senseless vida.