quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

tchau, guaralhos.

Tenho uma nova concepção de vida, que diz que todo mundo precisa se mudar ao menos uma vez na vida. O que eu acho até meio que inevitável, porque oi, uma hora você vai ter que no mínimo abrir suas lindas e longas asas e voar pra longe de papai e mamãe, porque crescer faz bem. O que não é o meu caso, porque minhas asas ainda não são longas o suficiente. Ou mesmo que você viva com seus pais até que eles pereçam, seria legal respirar novos ares e se arriscar um pouco, não acha? Conquistar o que é seu e não o que foi deixado pra você. Just saying. O que também não é meu caso.

Eu estou me mudando dessa vez por falta de espaço mesmo, minha mãe que mais parece trabalhar pro serviço de menores abandonados, acabou por abrigar há uns anos atrás duas primas minhas que estavam numa fase difícil. Até aí tudo bem, nada contra, super apoiei, porque meu sangue tava no rolo também, família é pra essas coisas e etc.

Só que minha mãe esqueceu que ela não ta no mundo mágico, ela fez multiplicar os pães e os peixes, fez a água virar vinho e ta até curando os doentes, mas o feitiço extensor foi um pouco demais pra ela e daí foi ponto pra realidade, PONTO!

Não estou reclamando. Era um inferno dormir na sala e perder toda a minha privacidade? Era. Mas eu abri mão disso, não ela. Eu fiz questão disso na época e não me arrependo. Porque infelizmente todo mundo é assim, todos nós precisamos perder uma ou duas coisas pra sentir falta delas. É a vida acontecendo, senta aí e relaxa.

Só que todo mundo já estava estressado, um humilde apartamento onde sete pessoas moram, com um banheiro e uma das pessoas (oi, tudo bom?) dormindo na sala é meio complicado, incômodo e causa desconforto pra todo mundo. Sem mencionar os horários. Um acorda às 4:30, outro às 6:00, outro às 7:00. O horário da escola das crianças, fazer almoço pra todo mundo, dor de barriga conjunta... São tantos fatores que não sei nem enumerar, mas é algo que se imagine fácil, tenho certeza de que não é necessário fumar nenhum baseado pra pegar uma brisa louca e assim imaginar esta loucura. O processo é simples.

Bom, daí que finalmente resolvemos nos mudar, fizemos contas e mais contas, porque né, rico a gente não é pra sair por aí comprando casa e mobiliando. Rola toda uma dificuldade de planejamento. Mesmo tendo dois administradores em casa. Um quase formado (oi, tudo jóia?).

Depois de muito procurar, achamos. O bairro é legal, é perto (veja que tudo se torna perto quando você morava a no mínimo duas horas de qualquer coisa legal que se tenha pra fazer) de metrô, do nosso trabalho e o mais importante: estamos na civilização. Não que Guarulhos não fosse, muito pelo contrário. A oitava economia do país (sono) vai muito bem, obrigado. Até bilhete único ela tem agora. Cidade grande com tudo o que alguém precisa, nem sempre com tudo o que se quer, diga-se de passagem. O que mais vislumbra alguém por morar em São Paulo é você poder ter opções. Ótimo que outras cidades têm de tudo. São Paulo tem várias opções do tudo. E é isso o que eu quero, desculpa, sou assim, fútil. AI TEM UM ÓTIMO BAR EM GUARULHOS QUE EU AMO SUPER DESCOLADO. Lindo, mas Sampa tem oito desse estilo e eu escolho um ou outro dependendo do dia, se quero sentar em mesa de vidro, ou mesa de madeira. Entende?

Passado essa discussão até mesmo em casa, porque nego ainda achava que Guarulhos compensava, passada a escolha das casas, passados os cálculos, passado tudo, fechamos o negócio aqui. Ufa, pronto, acabou o pesadelo! Certo? Errado.

Você não sabe o quanto você tem até que você tenha que embalar tudo. Embalar é uma arte. EU SEI EU SEI, liga na Granero que ó, eles vêm, embalam tudo, entregam na casa nova e BANG, sua vida nova ta pronta pra começar. Mas daí a conta sobe vários mil reais, não sei se te contaram. Corte de gastos, vamo lá.

Delícia é você realizar a muvuca em que a gente estava vivendo, daí você imagina tudo fora dos armários e encaixotado. NUM.FUCKING.APÊ. Not funny. Se alguém espirrar, tudo cai. Chega a ser engraçado. Eu me divirto. Mas eu me divirto com tudo, aprendi a ser assim. Daí pra mim ta tudo lindo, mas a tensão entre os outros participantes desse reality show chamado minha vida é tão grande que logo eles vão combinar voto na caruda e deixar o público decidir.

Gostoso mesmo é ir em lojas de construção pra escolher tintas e coisinhas desse tipo. Gostoso é ir nessas lojas de decoração pra ver os móveis, os frufrus, os tudo lindo. Desgostoso é ver seu cartão de crédito. Desgostoso é ver que, é, não vai dar pra levar tudo isso não, bora rever issaê.

Parabéns, se você chegou até esse ponto, você já valorizou cada coisinha velha e útil da sua casa antiga, você já valorizou que porra, você tem coisa pra caramba, porque ainda tem coisa fora da caixa e logo, logo, tem caminhão de mudança encostando na tua porta. Você valorizou seu bairro, porque a padaria de lá é uma quadra mais longe. Etceteras infinitos.

Seu sonho agora vai ser que o Luciano Huck rasgue a pele do seu pai e saia falando que opa, é tudo pegadinha, na verdade a sua casa ta sendo construída em outro lugar e vocês agora vão todos passar uma semaninha no Beach Park enquanto a gente resolve umas paradas aí pra vocês. Loucura, Loucura, Loucura.

Mas não. A outra casa ta lá ainda meio crua e seu pai vai precisar de ajuda, sabe? Aí você vai ter que pintar seu quarto AND o dos outros. E aí começa o processo de valorizar a nova casa. Você nota que, porra, a casa é grande pra caralho, ein. Você de repente nota que teu quarto é gigante e pintar a porra do gesso de cinco centímetros de uma cor e a parede de outra é um desafio de uma dificuldade e paciência, que você quase entende os vários dinheiros que o pintor profissional pede pra pintar bonitinho o que, oi, nem é dele. Meu pai já trabalhou com pintura, então ele tem as manhas, mas ainda assim, eu só nos retoques e fiquei exausto. Ele com seus sessenta e uns anos deve estar morto.

Pintamos, ta tudo lindo agora. Daí, claro, surge outro problema. A gente pegou a chave daqui faz umas duas semanas. Uma semana pra fazer o mais grosso, e daí não foi a gente, a outra semana a gente colocou os detalhes mais mimimis, ok. E desde sexta que a gente ta aqui, aguardando o povo da luz vir ligar o caralho da energia elétrica. QUE DIFICULDADE, SENHOR. Ligamos na segunda feira e a mocinha informou que, olha, passou gente sim, mas o portão tava fechado. ESCUTA. Quem hoje dia deixa o portão aberto? Ela não assiste aos noticiários? Minha mãe assiste e olha, não ta nada bonito aí fora. O cara que vem não sabe bater no portão? Bater palmas? Gritar ô de casa? Ou será que ele foi lindo o suficiente e só tocou a campainha? Nunca saberemos. O que fode é que a gente não saiu daqui. A sacada ta aberta, a gente respira e faz eco pela casa toda. NÃO HÁ A POSSIBILIDADE de se achar que não tem ninguém aqui. A gente ainda acha que tão enrolando a gente e passou ninguém aqui não.

Informaram que hoje vem alguém. Oremos. Depois do nervoso e horas perdidas, descobrimos que se for alguém lá pessoalmente tem como agendar um horário. Mas oi, todo mundo trabalha, olha a nossa cara de estou indo lá pessoalmente. Não vai rolar. Ok, eu estou de férias, mas porra, eu já to trabalhando o suficiente aqui, to afim de ir até a pqp pra marcar horário não. Não me olhe desse jeito. Se nego falou que em dois dias úteis vinham, deveriam ter vindo.

Hoje tem uma tia limpando aqui, tirando o pó das reforminhas, lavando os vidros e tudo mais. Amanhã terminamos de embalar as coisas e sexta está programado pra gente se mudar. Mas já ouvi dizer que talvez seja sábado pela manhã. O que pra mim não faz diferença, porque sexta pela manhã estou indo pra Curitiba porque oi, eu estou de férias e não fériei ainda. Ou vocês pensaram que eu ficaria nesse caos de mudança a vida toda?

Mentira, não foi nada premeditado, eu já tinha comprado as passagens faz tempo, me deixa ser feliz. Sei que a maioria das MINHAS coisas já estão embaladas - e BEM embaladas, porque eu já avisei que quando eu chegar quero ver tudo como eu deixei: dentro das caixas. Porque quem não deve, não teme. E eu devo, temo e to desesperado. Mas confio.

Não vejo a hora desse embala-desembala acabar, pra que tudo possa, enfim, começar. Sabe quando você sente que dessa vez vai tudo mudar de verdade? Uma mudança física que vai desenfrear várias outras mudanças?

Eu num geral gosto de mudanças, acho que é o que nos faz viver. Viver estagnado é triste e eu não quero isso pra mim, nem pra ninguém. Dou o maior suporte pra todo mundo que vem me dizer que ta querendo mudar de emprego, de vida, de namorado, de sexo... Estamos dando um pulo no escuro e enchendo nossos cus de dívidas monstruosas, mas é assim que o mundo gira.

E mesmo com tanta coisa dando errado na minha vida, agora eu posso dizer, que olha, to feliz. To animado, to inspirado. Aquele sentimento de mudar o mundo, sabe? De que no final, vai sim dar tudo muito certo. Só não pode acabar a bateria do note.

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