sábado, 10 de março de 2012

Textos que nunca terminei #1


Carolina

Ela era linda. E sabia disso. Nua, sambava em seu quarto, no décimo segundo andar do prédio onde morava há oito anos, com seus tios. Um quarto bonito, com uma cama de casal, quem via, imaginava que algum hippie passou por ali e deixou suas marcas. Muitas flores, muita cor. Numa das paredes, o símbolo de paz e amor pintado. Entre os vãos do símbolo, recortes de fotos de Carolina. Toda sua considerada vida explícita naquela parede, que ninguém nunca havia visto.
Uma correntinha de prata caída ao pescoço, com a chave do seu refúgio sempre pendurada. Colocou a parte de cima de um biquíni verde neon, amarrou-o no pescoço e se admirou no espelho que cobria metade da segunda parede de seu quarto. Na terceira parede, um guarda-roupas gigante estava com as portas abertas. Pegou a parte de baixo de um biquíni branco, passou a mão pelos cabides, escolhendo quase por acaso o que usaria. Um vestidinho branco, que mais parecia uma camiseta regata, deixava o verde da roupa de baixo transparecer. E um short jeans minúsculo, gasto nas barras e com o bolso rasgado. Uma sandália baixinha de couro marrom.
Um brinco grande, com uma pena preta pendurada raspando-lhe o ombro. O cabelo preso num coque que não deu certo. Semi preso, semi solto. Num misto de bagunça e perfeição. Afastou um pouco a cortina de sua janela. Sol. Pegou seus óculos que estavam em cima da escrivaninha, ao lado do seu notebook. Se admirou mais um pouco no espelho, enquanto passava um brilho labial.
Ajeitou as pulseiras que possuía, todas de pano, amarradas firme junto ao pulso. Colocou mais duas de miçangas e duas que ficavam frouxas e sempre deslizavam em seu braço quando ela mexia no cabelo. Ela gostava.
Celular no bolso rasgado, quase caindo. Dinheiro enrolado, apertadinho no bolso da frente do short. Foi até a tela do notebook, por MSN avisou ‘estou saindo’. Desligou a webcam e saiu do quarto, trancando a porta sem tirar a chave do pescoço, se abaixando. Como sempre fazia.
Passou pela cozinha e deu um beijo na tia.
-Não tenho horário.
-Ta na hora de criar juízo, menina.
Saiu sem responder, dando um tapinha na bunda da tia e sorrindo. Pegou o elevador sozinha e se namorou mais um pouco no espelho. Passando a mão pelo corpo, vendo se tudo estava no lugar. Ela sabia que o vigia estava assistindo pela câmera de segurança. Ele iria fingir que estava lendo o jornal quando ela saísse do elevador. Mas voltaria a gravação da câmera, como ele sempre fazia.
Ela saiu pelo hall de entrada e passou pelo porteiro do prédio, que lia o jornal do bairro. A porta bateu à suas costas. Esperou dois segundos e deu um passo pra trás, bem a tempo de vê-lo curvado, olhando de perto a imagem da pequena tela de segurança.
‘Todos iguais’ – ela pensou. E, agora sim, foi.